Xigubo

Sérgio Zimba: a cara do cartoon moçambicano

“O mercado da ilustração existe porque há muitos ilustradores, mas há falta de união. Gostaria que ao longo dos anos, se criasse uma associação para que nos solidificamos e possamos defender-nos e valorizados como deve ser”– Sérgio Zimba

Sérgio Zimba é o nome do cartoonista mais respeitado ao nível de Moçambique pela adição ao seu trabalho do sentido cómico, humorístico com vista entreter ao mesmo tempo educar.

Nascido a 31 de Julho de 1963, no Hospital da Moamba, num cenário em que boa parte da população é analfabeta, viu na linguagem visual a forma fácil de garantir a inclusão da mensagem a passar.

Em conversa com a Xigubo, Zimba definiu o seu talento como algo nato “já desenhava na barriga da minha mãe”, e sem ter frequentado um curso de artes e comunicação, foi tudo aprendido durante as brincadeiras de infância onde fazia alguns esboços embora não compreendidos pelos demais.

Ao longo do tempo, sua vocação foi tornando-se mais evidente, de tal forma que seus colegas e professoras motivaram-no a continuar a desenhar, o que tornaria-se mais sério em 1976 embora ainda não se sentisse pronto para publicar.

Em 1990 resolveu partilhar com os seus trabalhos enviando para o Jornal Domingo, um dos seus cartoons, pelo facto do mesmo carregar um conteúdo militar, foi direcionado à Página do Militar (coluna dedicada a assuntos militares na época) coordenada pelo jornalista, já falecido, Orlando Muchanga que para além de ter gostado do trabalho, deu a oportunidade de trabalhar e alimentar a página. E desta, passou a fazer parte da Sociedade Notícias, mas afecto ao Jornal Domingo, onde passou a produzir conteúdos para Página do Militar e mais tarde sentiu a necessidade de “dar um carolho a sociedade” (termo usando por Sérgio Zimba, ao referir-se a intervenção social), onde criou vários cartoons que merecem a atenção de várias pessoas singulares e não só.

Dentro dum carro estacionado na paragem da liberdade em Maputo, próximo a uma pastelaria, Sérgio Zimba puxou em sua mente alguns momentos marcantes proporcionados pelo cartoon, caso da admiração prestada, ao seu trabalho, pelo antigo presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano, e foi neste momento onde percebeu o alcance da sua arte e o medo das pessoas em serem retratadas; e da vez que conheceu o Jornalista Carlos Cardoso de onde sentiu a euforia do jornalista por conhecer o autor dos risos matinais.

Pelo seu talento e dedicação, em 1998 representou a literatura moçambicana no Festival Internacional da Juventude, em Portugal; em 2012 participou do Festival Nacional de Cultura. Foi considerado melhor cartunista em 2002 e 2003 num evento organizado pela companhia de Teatro Gungu e recentemente o seu esforço para educar e entreter a sociedade através dos seus cartoons foi reconhecido pelo Jornal Domingo, algo que Sérgio Zimba olha como um acto inexplicável de amor e carinho demonstrado pelo Jornal, e espera que outras empresas façam o mesmo com seus colaboradores de forma a motivar.

Nos últimos tempos, a ilustração gráfica tem ganho destaque no mercado nacional e, segundo Zimba, quando uma área cresce é preciso que exista união entre os fazedores, para que possam defender um ao outro ao que propõe a criação de uma associação de ilustradores de forma a desenhar-se estratégias para solidificação e posicionamento.

Carrega como sonho, que Moçambique tenha mais cartoonistas e que façam valer a arte, pois acredita que a comunicação visual é muito importante para o desenvolvimento das empresas jornalísticas e não só, pois é uma das formas de comunicar de forma rápida.

Para além da apresentação dos seus trabalhos em revistas e jornais, Sérgio é um dos cartoonistas mais lidos em Moçambique e tem 8 livros publicados nomeadamente, “Riso Pela Paz” (1993), “Lágrimas do Riso” (1995), “Manfenha” (1999), “Declaração Nacional dos Direitos Humanos” (2005), “Ri Amor” (2006), “Introdução ao Metical da Nova Família” (2007) e em 2011 “As Camisinhas”.

E com vista dar continuidade a trajetória, brevemente, mais dois livros serão apresentados ao público e abordam as peripécias vividas em tempos de Covid-19 e Malária, e garante que não fugirão a sua essência: mistura da língua portuguesa com línguas Bantu, crítica social e o lado humorístico.

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