Entrevistas
“Talento melhora-se com ciência”- Bruno Belchior
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Quem não conhece o ditado “Filho de peixe, peixinho é, e sabe nadar”? Este ditado é totalmente aplicável para Bruno Belchior, um jovem que vem conquistando seu lugar no ramo artístico através do Stand Up Comdey e da ilustração de imagens animadas e inanimadas.
Iniciou sua carreira em 2010, quando escreveu e encenou sua primeira peça teatral. Mas foi no grupo Improriso, que teve sua primeira experiência num palco de Standup Comedy, iniciando desta forma a sua careira profissional, e desfilando a sua classe e talento na primeira televisão em Moçambique (TVM).
Numa conversa com a Xigubo, o humorista e ilustrador gráfico, contou-nos sobre a sua entrada no mundo da ilustração e comédia, suas metas para o ano 2022 e a importância de conciliar o conhecimento empírico ao científico, no ramo artístico.
Falando sobre a sua ingressão no mundo da comédia assim como na ilustração gráfica, revelou que sempre foi apaixonado por estas duas áreas, pois cresceu vendo os rabiscos e produtos finais do seu pai (Sérgio Zimba), e a semente foi crescendo, mas ao passar do tempo foi pressionada a seguir outras áreas, algo que não deu muito certo, pois hoje escrevemos sobre ele.
Numa conversa com seu pai, ficamos a saber que sempre foi renitente em querer estudar artes, apesar da negação na família, e chegou a parar de desenhar. Pode contar-nos como fez para lidar com essa situação?
A renitência foi breve. O que acontece é que quando temos alguém próximo com as credenciais e fama do meu pai, as expectativas das pessoas acabam sendo prejudiciais, amigos e conhecidos comparavam meus desenhos com os do meu pai, eu jamais conseguirei desenhar como ele, então com algum crescimento pessoal acabei aceitando que sempre existirão comparações e voltei a desenhar quando iniciei meu curso de Design de Comunicação
Qual é a importância de buscar conhecimento científico para trabalhar nas artes?
O senso comum diz que arte vem do coração, mas até o que vem do coração precisa de alguma ciência pra ser extraído de forma óptima nós precisamos estudar os que vieram antes de nós, precisamos aprender técnicas, precisamos entender como os elementos funcionam para criarmos. A inspiração interior é fundamental, mas aprender as técnicas e a ciência é a base para criação de arte de qualidade.
“A arte vem do coração,
é inspiração, mas a técnica para melhor
apresentar buscamos na carteira” – Bruno Belchior
É sabido por todos e inegável que Bruno Belchior é uma das caras da comédia nacional, qual é a avaliação que faz da comédia nacional na actualidade?
A comédia moçambicana é muito boa, podemos competir e ganhar muitos nos PALOP e CPLP. Entretanto existem desafios a serem conquistados. Precisamos nos divulgar mais, muito mais, precisamos nos dar a conhecer. Até hoje existem pessoas que não sabem que Moçambique tem standup comedy, mas existe desde 2008.
Só assim vamos poder conquistar muitas outras coisas, programa de rádios, televisivos, superespectáculos, shows internacionais, contratos de patrocínio etc… é que sem sermos conhecidos ninguém vai investir e sem investimento não há crescimento.
É possível notar uma certa insatisfação dos comediantes quanto aos memes, qual é o seu posicionamento quanto a isso?
Como um memeiro eu próprio, é complicado tomar posição, mas é bem simples, existem humoristas que usam memes como meio para expressar piadas, mas a maior parte dos memeiros não são propriamente “comediantes”, muitos memes são engraçados mas é necessário um pouco mais pra alguém ter essa designação de comediante.
Um humorista tem que ter intenção e método de criação de conteúdo cómico, o que meus colegas comediantes discordam é com a apropriação do termo por pessoas que apenas exploram itens da cultura popular pra ganharem risadas imediatas, um humorista é muito mais do que apenas isso.
Quais são as bases para ser um bom comediante?
Depende de cada pessoa, há humoristas que têm uma naturalidade para piadas, há comediantes que têm boa técnica de criação de piadas, há comediantes que têm bom olho para observação de situações e condição humana e há comediantes que têm tudo isso, em resumo a base fundamental para ser um bom comediante, é a inteligência para reconhecer uma boa oportunidade de piada.
Herdou a ilustração de seu pai? Como começa a trabalhar no mundo da ilustração?
Cresci a ver as caricaturas do meu pai no jornal Domingo, na altura rubrica “Coisas de Maputo“ e desde cedo tive interesse em livros de banda desenhada. O interesse pelo desenho nasceu e cresceu naturalmente, sempre desenhei, sempre fiz bandas desenhadas curtas em papel A4, cadernos da escola, cartolina, pedaços de caixa, onde eu pudesse desenhar.
Em 2001 participei num workshop com a Associação Internacional de Banda Desenhada – World Comics ao lado de muitos nomes sonantes da ilustração moçambicana (Zimba, Zacarias Chemane, Sendane, Neivaldo, Sandra Pizura, entre outros).
Desse workshop, surgiu o meu primeiro trabalho profissional de ilustração, uma banda desenhada educativa sobre o tratamento apropriado de crianças com deficiência mental produzida para a Save the Children e ACRIDEME. Ainda era jovem, mas a pedra estava lançada e continuei a desenhar por prazer e como serviço até hoje.
Como funciona o processo criativo dessas artes?
O processo varia por trabalho, a arte é baseada no conteúdo solicitado e para as ilustrações que faço por prazer varia a forma como inicia, tem que haver alguma coisa que me inspire a desenhar, alguém, algum acontecimento, uma memória, um desejo, uma piada, por ai.
Assim que a ideia se estabiliza, com o lápis e o papel desenho um rascunho procurando as melhores formas para materializar a ilustração, posso levar horas ou minutos dependendo da inspiração.
O rascunho a lápis serve de base para a criação final em forma digital as cores com recurso a computador e softwares de criação e edição, ultimamente tenho tido o habito de gravar o processo de digitalizar as ilustrações para partilha nos meus terminais de redes sociais, pois pretendo fazer crescer estas páginas.
Em que contexto nasce “Aina & Echo e o Mistério da Floresta de Brócolos“
Gosto de fazer desenhos/caricaturas de amigos meus. Aina é uma amiga minha a quem eu devia uma caricatura que ela ganhou no Amigo Oculto.
Quando desenho pessoas por prazer, tento retratar factos sobre elas de forma exagerada e/ou engraçada. Aina é vegana, tem uma tartaruga de estimação e gosta de filmes, então desenhei ela como personagem de um filme de aventura com a tartaruga dela no meio de uma floresta de vegetais.
Mesmo para fechar, o que podemos esperar de ti, neste ano.
“Regresso aos palcos”
Este ano estou de volta aos palcos em shows de stand-up, estou activo nas ilustrações e vídeos que poderão ver nas minhas páginas, gostaria de terminar um projecto de banda desenhada ou filme curto.
Nesta conversa ficamos a saber do contexto de criação do grupo “Os Matrecos”, que surgiu espontaneamente, uma vez que os membros Abel Bartolomeu, Macandza, Menezes, Bruno e Abul, já realizavam shows individuas ou em dupla, o que resultou com a oficialização do grupo, segundo Belchior, “Os Matrecos”, são formigas num só buraco, uma vez que cada membro te seu próprio estilo, mas unem-se para apresentar um só produto.
Entrevistas
AOPDH prepara primeiro show a solo
O grupo AOPDH prepara-se para realizar o seu primeiro show a solo, intitulado Peta Trap no dia 12 de outubro, no Centro Cultural Moçambicano Alemão, na cidade de Maputo,
Para o grupo, o evento marca um momento especial na carreira do grupo, que tem construído sua trajectória com parcerias, mas agora celebra a realização de um show próprio.
Em entrevista, os membros do grupo afirmaram que este é um dos primeiros eventos onde têm total controle criativo, o que proporcionará uma experiência mais próxima e personalizada para o público.
Segundo a AOPDH, o show será uma oportunidade única para os fãs verem de perto uma performance que reflecte directamente a essência do grupo, com músicas que abordam questões da sociedade de forma sincera e sem filtros.
Durante a entrevista destacaram a importância de cantar em línguas locais, como tem feito em seus trabalhos, o que representa o cotidiano e a cultura do sul de Moçambique. Para eles, a música vai além do mercado e do marketing, sendo uma forma de expressão autêntica, conectando-os ao público de maneira significativa.
Os integrantes da AOPDH também ressaltaram que o show será uma chance de criar um espaço de diálogo e interação com os fãs, algo que ainda é escasso no cenário musical local. O grupo, prometeu uma apresentação que não apenas revela a profundidade de suas letras, mas também oferece uma experiência de palco memorável, com energia e proximidade.
“Acreditamos que quem vai nos conhecer no show, vai ter uma boa experiência de certeza” disse Phiskwa membro da AOPDH. Este show, cujo a entrega está condicionada ao pagamento de 100 a 200 meticais,terá uma transmissão em directo, no Youtube da 16 Cenas.
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Rumo ao seu lugar no rap, Nélio OJ lança “Ninguém Fará por Nós”
O rapper moçambicano Nélio OJ lançou recentemente o seu novo projecto, “Ninguém Fará por Nós”, com uma mensagem clara e urgente: a responsabilidade de transformar Moçambique está nas mãos dos seus cidadãos, especialmente da juventude.
O título da mixtape reflecte o descontentamento de Nélio ao observar que muitos moçambicanos estão a desistir de lutar por um futuro melhor.
Nélio OJ revela que o início da sua carreira foi marcado por desafios. Ao fazer parte de um grupo onde era o único com uma visão interventiva para o rap, teve de se adaptar ao ambiente, algo que, apesar das dificuldades, o ajudou a ganhar experiência na cena musical.
Após a separação do grupo, sentiu-se livre para seguir o seu próprio caminho e dar vida ao estilo de rap que sempre desejou produzir.
“Cometi alguns erros, mas foram esses erros que me tornaram o que sou hoje”, reflete o rapper. Ele destaca que, embora a carreira de rapper em Moçambique seja desafiante, não vê isso como motivo para desistir.
Inspirado pela realidade moçambicana, os desafios sociais, políticos e as dificuldades enfrentadas pela sociedade no dia a dia, Nélio OJ busca utilizar a sua música como um reflexo desses problemas e uma chamada à ação. A mixtape “Ninguém Fará por Nós” é um projecto pessoal, que Nélio descreve como o seu “BI artístico”, um meio para que o público conheça o verdadeiro artista por trás das letras.
OJ cita como influências nomes de peso tanto da cena nacional quanto internacional, como Azagaia, Valete, Emicida, Gabriel o Pensador, MC Marechal, Eminem, J Cole, Nas, Hernâni da Silva e MCK, de quem ele procura absorver elementos que o inspiram a continuar a sua jornada.
O principal objetivo de Nélio com este projecto é evoluir profissionalmente e levar a sua música ao maior número possível de moçambicanos, sejam eles apreciadores de rap ou não. “Quero que as minhas letras sirvam de inspiração para as pessoas, que libertem e curem mentes”, conclui o artista, deixando claro que a sua missão vai além do entretenimento, buscando impactar e transformar vidas por meio da sua arte.
Entrevistas
Franklin Gusmão e Elton Penicela apresentam “Flow da Munhava”
“Flow da Munhava” é o novo trabalho discográfico que uniu mais uma vez Elton Penicela e Franklin Gusmão, para juntos criarem letras com histórias do cotidiano em ritmos moçambicanos e trap.
Disponível em algumas plataformas de streaming, o trabalho colaborativo oferece uma experiência auditiva única. Em uma entrevista a Xigubo, Franklin Gusmão revelou as inspirações e o processo criativo por trás deste projecto.
Franklin Gusmão revelou no início da nossa conversa que uma das coisas que mais ama neste projecto é o facto de ter sido feito de forma espontânea, facilitado pela química entre ele e Elton.
Explica ainda que a inspiração para criar o alter ego GUSTTAVO e a mixtape veio da necessidade de representar a terra que viu seus pais crescer, Sofala. Franklin desenvolveu essa vontade quando viveu lá por um tempo, e acredita que a representação é perceptível no sotaque do GUSTTAVO.
O processo criativo por trás das músicas foi simples devido à parceria sólida entre os dois artistas, segundo contam. Elton enviava os beats ou Franklin os pedia, e, com base no que ouvia, reencarnava GUSTTAVO, e o resto se desenrolava naturalmente.
“Não podemos esquecer das nossas raízes” – Franklin Gusmão
Essa facilidade de colaboração resultou em uma fusão harmoniosa de ritmos nacionais e trap, com a intenção de manter a representatividade e não esquecer as raízes culturais. Franklin acredita que não é necessário buscar samples estrangeiros para fazer bons beats, e Elton tem demonstrado isso em suas produções, misturando elementos tradicionais com toques modernos para a nova geração.
A fusão de ritmos presentes em “Flow da Munhava” é um subgênero que os artistas chamam de “808qTwerka”. O 808, um tipo de baixo popular em instrumentais de trap, é programado de maneira não convencional, criando uma batida que incita o público a dançar. Este é o segundo projecto que apresenta esse gênero após “Selesti” com Rober Mavila.
A criação de um alter Ego para expor sentimentos ocultos
Franklin revelou que nunca escreveu as músicas na primeira pessoa; embora alguns o chamem de Gusttavo, apenas interpreta essa persona. Gusttavo não é tratado como uma pessoa, mas como um sentimento, uma ideia, uma representação da luxúria presente nos homens, daí que acredita que todo homem tem pensamentos ocultos que não são expressos por questões de ética.
Gusttavo é a representação desses pensamentos ocultos em sua forma mais pura e sem filtros. Ele afirma que nunca diria ou faria o que Gusttavo diz fazer, mas admite que já teve esses pensamentos, assim como todos nós já tivemos em algum momento.