Cultura
WAITHOOD um novo registo para a arte africana
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Nesta sexta-feira, 14 de junho, na varanda do Cowork Lab 5, na Avenida da Marginal, a cidade de Maputo assiste à primeira edição da revista WAITHOOD, que surge com a ideia de criar uma interseção entre a arte contemporânea, arquitetura e a experiência de jovens negros africanos e da diáspora.
A revista apresenta uma viagem através da qual artistas, escritores e criadores negros imaginam futuros diferentes e fazem o trabalho necessário para manifestá-los. Em outras palavras, segundo o comunicado de imprensa que tivemos acesso, WAITHOOD Magazine é onde/quando/como jovens africanos e diaspóricos se reúnem para sonhar e criar estratégias de acesso a futuros livres.
Com curadoria de Ana Raquel Machava, a revista WAITHOOD tem como objetivo “produzir e fazer circular conhecimento com o potencial de resgatar o futuro dos povos negros das mãos do capital; um ato urgente e contínuo de decolonização”, diz o comunicado.
O evento de lançamento conta com a música da artista moçambicana DJ LOCO e a presença de artistas e escritores moçambicanos que contribuíram para a edição, nomeadamente os fotógrafos Ildefonso Colaço e Chonga Pessana e o escritor Jonhson Nhacula. Este evento pretende transformar a varanda em um lugar de festa e de reflexão em torno do tema central da primeira edição, “Descanso”, e sua relação com o elemento clássico “Terra”.
O nome WAITHOOD é um presente da antropóloga moçambicana Alcinda Honwana, que utiliza a palavra para descrever a fase liminar que os jovens atravessam na transição da infância para a idade adulta, uma espécie de adolescência prolongada indesejável, muitas vezes entendida como um produto de crises políticas neoliberais, que obrigam os jovens africanos a experienciar muita precariedade, como falta de emprego e de oportunidade de se afirmarem na sociedade como adultos bem-sucedidos.
Além do lançamento da revista, no mesmo evento, será apresentada a nova programação do projeto de cinema “KUXA KA GUETTO”, uma proposta de cinema nos bairros periféricos da cidade de Maputo e Xai-Xai, produzida pela organização Chamanculo é Vida.
Anteriormente a este lançamento, a WAITHOOD Magazine teve sua estreia no Senegal, na African Art Book Fair, e também passou pelo MTN Bushfire, um dos festivais multiculturais mais conhecidos e emblemáticos no continente africano.
Cultura
Énia Lipanga participa do III congresso de direitos humanos e povos originários em Brasil
Énia Lipanga, poetisa e activista social de Moçambique, viaja mais uma vez para o Brasil como uma das vozes convidadas para o III Congresso de Direitos Humanos e Povos Originários, que acontece em Boa Vista, nos dias 21 e 22 de novembro de 2024.
No evento, Lipanga une sua perspectiva literária à luta pelos direitos humanos e pela valorização das culturas indígenas, participando no painel “Educação de Minorias” com uma palestra sobre “A liberdade feminina em poesias”.
Com profunda sensibilidade, Lipanga olha a poesia como uma poderosa ferramenta de resistência e expressão. “A liberdade é não apenas um direito, mas uma prática cotidiana de resistência e expressão,” afirma.
Para ela, a poesia abre um espaço essencial para “explorar as dores e as alegrias da luta feminina,” permitindo que mulheres de todas as origens reescrevam suas histórias e “rompam silêncios”. Sua palestra é uma reflexão sobre como a literatura pode transformar o entendimento sobre igualdade e autoconhecimento, em um caminho marcado pela resiliência.
A presença de Lipanga no congresso também é uma oportunidade de ampliar o diálogo entre a literatura moçambicana e o movimento pelos direitos das mulheres. Inspirada pelas obras de figuras icônicas de Moçambique, como Lília Momplé e Noémia de Sousa, Lipanga espera levar à audiência brasileira o contexto histórico e cultural da luta por liberdade em seu país.
“Quero resgatar essas vozes para que a audiência compreenda que a busca pela liberdade em Moçambique tem raízes antigas e marcantes,” declarou.
Ainda embalada pela energia de sua recente digressão “Composta de Ti(s)” pelo Brasil, onde ministrou palestras e participou de saraus em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, Lipanga destacou o impacto dessa conexão intercultural. “Foi uma jornada transformadora, cheia de encontros e trocas que refletem a minha própria história.”
Cultura
Embaixador do Turismo em Moçambique visita Bazaruto e diz que é preciso valorizar o que é nosso
No último sábado, 28 de setembro, o músico e produtor DJ Ardiles, embaixador do turismo em Moçambique, visitou o arquipélago de Bazaruto, na província de Inhambane, onde ficou encantado com o potencial turístico desta região e saiu com mais certeza de que é preciso valorizar o que é nosso.
Como embaixador de turismo do país, DJ Ardiles acredita que este paraíso devia ser mais explorado pelos moçambicanos e convida a todos a visitarem, porque é do nosso país e devemos sentir orgulho do mesmo. Por isso, o músico pretende continuar a fazer o seu papel de promover este e outros locais turísticos de modo com que todos tenham acesso à informação, conheçam e possam visitar. Na sua visão, valorizar o que é nosso vai desde consumir produtos locais e divulgá-los até tornarem-se comerciais.
Conhecido pelas suas praias de areia branca, águas cristalinas e uma rica vida marinha, Bazaruto é um destino ideal para mergulho, snorkeling e passeios de barco. Os recifes de corais que cercam as ilhas são lar de uma variedade de espécies marinhas, incluindo peixes coloridos, tartarugas e até golfinhos. Ao visitar este local, DJ Ardiles também reflectiu sobre a importância de se continuar a preservar as diversas espécies marinhas da nossa costa e encorajou o Governo a continuar com o trabalho que tem feito para a conservação das mesmas, assim como o público em geral a fazer a sua parte.
Além das suas belezas naturais, o arquipélago também possui uma rica herança cultural. A interacção com as comunidades locais permite aos visitantes conhecer tradições, a gastronomia e a hospitalidade característica da região.
Segundo DJ Ardiles, o desenvolvimento sustentável do turismo em Bazaruto é crucial para preservar este paraíso, por isso, incentiva também investimentos em infra-estruturas que respeitem o meio ambiente e promovam a conservação dos ecossistemas.
Cultura
“Não penso na velhice, tenho medo que a velhice pense em mim”- Mia Couto
O escritor moçambicano Mia Couto, famoso por suas obras, frequentemente aborda a temática do tempo em suas entrevistas e livros. Para o escritor, o tempo e as idades devem ser encarados como travessias, uma visão que permeia sua produção literária.
Em um curto vídeo recente, Mia Couto expressa seu desejo de atravessar o tempo de maneira distraída, sem se deixar prender por suas limitações. Essa mesma reflexão está presente no poema “O espelho”, escrito em 2006, no qual o autor discorre sobre a perplexidade diante do envelhecimento e como a luz da idade revela nosso verdadeiro reflexo.
Confira abaixo o poema que explora essa temática:
O espelho
“Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.
Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me, a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.
A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.”
Maputo, 2006