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Entrevistas

Adelino Branquinho, um homem perseguido pela arte

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Adelino Branquinho, um homem perseguido pela arte

Foi no dia 8 de Fevereiro de 1959 na província de Cabo Delgado que nasceu Adelino Branquinho, uma criança alegre e extrovertida que a apesar da guerra e ausência da figura paterna que se encontrava presa pelo regime colonial na altura, conseguiu manter-se firme e ser o filho que os progenitores desejavam.

Naquela altura, o sistema curricular nos estabelecimentos de ensino incluíam as artes e os professores eram os responsáveis por caçar talentos entre os alunos e ajudar a desenvolver suas habilidades. Uma das suas professoras notou o talento de Branquinho, com 9 anos, e lhe deu a primeira oportunidade de subir num palco e apresentar uma peça teatral onde interpretou o papel de um dos Reis Magos que visitaram Jesus a quando da sua nascença.

Segundo revelou-nos Adelino Branquinho, em sua casa onde nos recebeu para a realização da nossa matéria contou foi escolhido para interpretar este papel, por ter uma aparência Árabe. Foi daí que o “bichinho” do teatro entra em suas veias e passa a fazer parte do seu DNA, passado algum tempo começou a colaborar com a Rádio Moçambique (RM), gravando algumas peças teatrais e rádios novelas. Mas por questões da vida fez um curso básico de Electricidade e foi afecto na empresa estatal PESCOM como eletricista e técnico de refrigeração onde trabalhou por cerca de 7 anos.

Adelino Branquinho, um homem perseguido pela arte

Em Março de 1986, recebeu o convite do seu colega na PESCOM, Victor Raposo e saiu de Pemba para residir na Cidade de Maputo. Enquanto isso Manuela Soeiro fundadora do Mutumbela Gogo juntava os jovens que dinamizariam o mercado do teatro em Moçambique.

Sendo Técnico de frio, foi solicitado pela Mutumbela Gogo a reparar o ar condicionado do Teatro Avenida e durante a realização do seu trabalho como técnico de frio o grupo teatral ensaiava a primeira peça que seria apresentada ao público, “qual é coisa qual é ela?”, uma peça infanto Juvenil que o deixou encantado ao ver os ensaios, embora não se tenha manifestado, apenas sentou no balcão do teatro e assistindo enquanto o ar condicionado que reparou funcionava. Por força do destino ou uma oração bem ouvida pelos seres celestiais, faltava um membro para interpretar um personagem na peça, Manuela Soeiro directora do Mutumbela convidou-o a interpretar de forma temporária até que se encontrasse alguém para o fazer.

Segundo contou Adelino Branquinho, depois do primeiro ensaio foi convidado novamente, e desta vez para fazer parte do grupo e juntos treinar e melhorar o primeiro filho do Mutumbela, e para tal teve que sair da empresa que colaborava na altura, de forma a entregar-se para o teatro por completo, isso com 33 anos de idade e com ajuda dos colegas conseguiu tornar-se num actor melhor, mostrando que nunca é tarde para seguir nossos sonhos, ou como ele diz “nunca é tarde para se encontrar”.

Ao fazer parte dum grupo teatral, passou a ver o mundo de outra maneira, da forma que sempre quis olhar. Segundo defende, “todos somos grandes actores e actuamos todos os dias em todos momentos e somos membros do mesmo grupo teatral”.

“Nunca é tarde para descobrir-se e realizar um sonho de infância” – Adelino Branquinho

E no dia 6 de Novembro de 1986 foi formado oficialmente o primeiro grupo de teatro profissional em Moçambique Mutumbela Gogo. Logo em seguida foi apresentada a peça de ensaio (qual é coisa qual é ela?) que foi muito bem recebida pela crítica, dando combustível para reprodução de mais trabalhos como “Xikalamidade“, “Meninos de Ninguém” dentre outras.

Com a sua entrada no Mutumbela Gogo, sentiu-se muito acolhido pelos colegas que apesar de não ter muita técnica no que diz respeito a encenação, foram muito pacientes e o ajudaram a despertar o actor adormecido no seu íntimo, mas também a desenvolver suas habilidades como pessoa.

A apresentação da primeira peça teatral o retorno vindo do público, as viagens realizadas para o estrangeiro com objectivo de mostrar o teatro moçambicano, o reconhecimento nacional e internacional através de prémios e elogios vindos de pessoas do alto escalão são aspectos que Adelino Branquinho tem dificuldades em esquecer, pois para além de significar desenvolvimento do grupo, era a realização de um sonho de infância. As conversas e a emoção que sentiam e partilhavam a cada actuação são coisas que Branquinho recorda com um sorriso no rosto.

Porém a trajectória do grupo teatral, não só foi feita de momentos felizes os difíceis também estiveram presentes, embora Adelino Branquinho não se tenha mostrado muito disposto a falar sobre por considerar “águas passadas”. Partindo do princípio que já foram superados, mas contou que o teatro avenida em dias chuvosos costumava ser inundado o que danificava o palco e atrapalhava na produtividade do grupo. Durante a criação do grupo todos tiveram que sacrificar algo, por um bem maior. O actor recordou das vezes que apoiaram e ajudaram Lucrécia Paco a cuidar dos filhos que levava para as actuações, das vezes que faltaram fundos para pagar um hotel durante as actuações no estrangeiro e tiveram que usar o palco que actuavam para repousar e recuperar as energias.

Pelo seu talento e dedicação chamou a atenção da sétima arte (cinema), e chamado a participar dos filmes “Comédia Infantil” realizado por Solveig Nordlund em Moçambique, “Avódezanove”, “Segredo do Sovietico” e “O Sucessor”, tornando um sonho ou desejo de infância em realidade. São conquistas que Branquinho olha como especiais, pois sentiu-se valorizado e a fazer algo a mais do que tinha feito pela Cultura moçambicana.

Questionado sobre a sua opinião quanto à nova geração de actores, um sorriso enaltece as rugas da idade e a cabeça abana como quem diz de forma indirecta rendo-me, mas não se limitou a comunicação não-verbal. Adelino, revelou que o teatro assim como outras áreas que incluem a encenação estão um pouco livres da censura que a antiga geração de actores sofria por parte do governo, que não se sente à vontade em ter seus problemas expostos no teatro pelo teatro e não só. Ainda acrescentou que aprecia muito o teatro actual pois já não é realizado de forma empírica mas sim é estudado e desenvolvido por técnicas avançadas o que aumenta a qualidade do mesmo, elevando-o para um novo patamar.

Adelino Branquinho, um homem perseguido pela arte

Durante a nossa retirada da casa do actor, algo despertou a nossa curiosidade, as pinturas que a casa levava em suas paredes no lado de fora. Quando questionado sobre o contexto em que nascem daquelas pinturas plásticas revelou que as pintou enquanto esteve isolado por conta da Covid-19, ou seja, com os palcos fechados e os projectos sendo redesenhados, despertou em seu íntimo uma nova arte. Pintou nas paredes externas de sua casa tudo que sentia e via, dúvidas e certezas, ideias e projectos e até a origem do homem mas em sua interpretação.  

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Denilson LA prepara lançamento de “Casa Azul”

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Denilson LA CASA AZUL

O músico moçambicano Denilson LA lançará no dia 24 deste mês mais um trabalho discográfico, intitulado “Casa Azul” no Hey Jo Tacos, seu segundo álbum depois de “Último dia de Inverno”. Neste trabalho, o músico, promete abrir-se com ao público como nunca fez.  

A ideia de baptizar o álbum com esse nome remete à casa de seu produtor Badjo, onde ele e outros artistas costumam reunir-se para trocar ideias sobre arte e gravar suas composições. Segundo Denilson, quando estão lá, a casa é ambientada com luzes azuis que lhe trazem o espírito de querer expressar seus sentimentos. Para si, o azul é uma cor de vulnerabilidade, felicidade e energias positivas, daí sua preferência por ela, às vezes também associada à tristeza, dependendo do contexto, porem tudo mexe com seus sentimentos.

Assim, a escolha do nome para o álbum não foi aleatória, e suas músicas seguiram o mesmo pensamento. Denilson considera o álbum seu diário, com foco na casa de Badjo, onde conversava com amigos e conhecia novas pessoas, tanto em momentos tristes quanto felizes.

Comparando com seu álbum anterior, apesar de ter trabalhado no mesmo estúdio, a diferença reside no facto de que as músicas não foram programadas para fazer parte deste projecto, ao contrário de “Último Dia de Inverno”, onde sabia que estava a gravar um projecto, mas ainda não tinha um nome para ele.

Como forma de tornar as músicas mais originais e tocantes, resolveu trabalhar com instrumentistas que o acompanham em seus shows. A gravação de todas as músicas levou 2 anos, fluindo naturalmente. A ideia de trazer os instrumentistas foi algo muito diferente para si. O álbum cont atambem com a participação de Bangla 10, que vem de um mundo musical diferente do seu.

A colaboração com Bangla surgiu depois que este o convidou para colaborar em uma de suas músicas. Assim, conseguiram conhecer-se como pessoas, não apenas como músicos, e identificaram-se um com o outro. Além de Bangla, Hernani da Silva e Nicko Journey fazem parte deste trabalho.

https://open.spotify.com/album/53GzRQbFWik8IBXSWYWsg1

O álbum é composto por ritmos musicais africanos misturados com R&B. Em algumas músicas, fez-se coisas novas para criar uma identidade única. Todas as letras contam histórias de amor, vivências, ambições e histórias sobre si para os outros, na expectativa de que alguém se identifique com sua música e seja impactado da melhor forma possível.

Durante o processo de produção dessas músicas, algo interessante aconteceu, seu produtor chegou a emocionar-se com algumas delas enquanto gravavam, o que o fez perceber que caminhava pelo lugar certo, uma vez que notou que suas histórias eram as do outros, algo que ajudou a solidificar a amizade entre eles, uma vez que também passam pelas mesmas situações.

Embora um bom pai não tenha um filho favorito, a primeira música deste álbum tem um grande significado para Denilson. “Quem Sou Eu” traz consigo uma reflexão sobre o amor e ódio que tem pela música. Apesar de ser satisfatório receber muito apoio e admiração pelo que faz, o dinheiro que consegue ainda não é suficiente para estabelecer-se completamente.

Última música lançada antes do álbum

Assim, reflecte sobre as consequências de fazer música e todos os dilemas envolvidos. A inclusão desta música não foi aleatória. Denilson acredita que antes de contar suas histórias, precisa introduzir a todos sobre quem realmente é.

Com este álbum, espera recuperar o investimento feito e pagar aos investidores que acreditaram nele, uma vez que não tinha fundos para custear todas as despesas. Um facto curioso sobre essas músicas é que 30% delas foram criadas para serem vendidas, porém isso não aconteceu, pois seus amigos não permitiram, dai que acredita que elas ganharem mais visibilidade, será algo interessante de se observar.

Antes do lançamento deste álbum, Denilson, estará no 16 Neto as 16 horas do dia 10 de Fevereiro, para uma sessão de escuta do álbum.

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Depois de alcançar um milhão de visualizações no YouTube, Lukie prepara álbum 

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Lukie

O ano acaba de começar e as expectativas tendem a estar em alta, algo que nao é diferente para a cantora moçambicana Lukie, que no ano passado (2023) lançou o audiovisual “Vão Falar”, ao lado de Idrisse ID, que se tornou num sucesso a ser a música mais pedida na Super Fm por duas semanas consecutivas e alcançado a marca de 1 milhão de visualizações no Youtube. 

Em conversa, Lukie revelou detalhes sobre suas conquistas em 2023 e os planos para 2024. Falando sobre “Vão Falar“, a cantora expressou sua gratidão por ter alcançado um número que sempre almeja, e para si, isso significa que entregou ao mundo, aquilo que precisava e na melhor qualidade, e descreve os sentimento que carrega como honra por representar a cultura e a música moçambicana de maneira tão positiva.

Foi uma conquista incrível e muito gratificante“, afirmou Lukie, demonstrando entusiasmo e determinação para buscar mais sucessos no futuro.

Olhando para o horizonte de 2024, Lukie prometeu aos fãs uma nova fase: mais forte e determinada do que nunca. “Preparem-se para uma nova Lukie, com novas músicas e até mesmo o lançamento do meu álbum”, declarou, embora detalhes sobre o álbum e as músicas que estão por vir ainda sejam um segredo.

Além de seus planos musicais, Lukie falou das suas fontes de inspiração para suas composições, destacando sua mãe como sua maior musa, e para que suas músicas transmitam sentimentos profundos, olha para a sociedade e faz criações que espalham amor, buscando impactar positivamente.

Para quem escuta as músicas de Lukie, sabe que o Emakhuwa, uma das línguas moçambicanas faladas em Cabo Delgado, é predominante em seus trabalhos. Na visão de Lukie, cantar dessa forma reforça seu compromisso em representar a diversidade linguística de Moçambique por meio de sua música.

Outras entrevistas:

Com um olhar optimista para o futuro e uma determinação inabalável em elevar a música moçambicana, Lukie se prepara para fazer de 2024 um ano marcante em sua carreira, prometendo levar adiante sua paixão pela música e sua conexão com a cultura local.

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Isac Project o futuro do jazz moçambicano

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ISAC PROJECT

Às vezes, a música é uma jornada de descoberta pessoal e espiritual. Conversamos com o músico moçambicano Isac Project, cuja paixão pela viola baixo o levou a explorar novos horizontes no mundo do jazz. Descubra mais sobre a essência deste artista emergente que está conquistando corações e mentes em Moçambique e além.

Isac Project teve seu primeiro contacto com a viola baixo na igreja, onde aprendeu as bases de sua carreira musical. A experiência de tocar na banda da igreja o cativou e o inspirou a buscar uma carreira musical mais ampla. Essa paixão inicial o impulsionou a se tornar o músico talentoso que é hoje.

Quando perguntado sobre suas influências, Isac menciona Nathan East, um baixista internacional do mundo do jazz, e Hélder Gonzaga, uma inspiração nacional. Além disso, destaca álbuns do renomado baixista Victor Wooten, como “Words and Tones”, que tiveram um impacto significativo em sua jornada musical.

Seu álbum “Bass in Worship” não é apenas intrigante, mas também cheio de significado. O jazz é o pano de fundo desse álbum, que abrange uma variedade de ritmos contemporâneos, jazz soul e elementos espirituais. Isac Project explora sua fé e espiritualidade por meio da música, criando um álbum que fala ao coração e à alma.

A essência por trás de “Bass in Worship” é uma mensagem poderosa de que o jazz é para todos. Isac Project acredita que a música é uma linguagem universal que pode ser apreciada por pessoas de todas as tribos e níveis sociais, usa o álbum para mostrar sua identidade como cristão e expressa sua devoção e gratidão a Deus por meio da música jazz.

A jornada para criar este álbum começou em 2018, e foi lançado em março de 2020. Desde então, Isac Project tem se apresentado e encantado o público em Maputo.

Quando questionado sobre sua faixa favorita no álbum, Isac destaca “Nakurandza”, uma fusão de jazz e ritmos africanos que pede por mais amor, força e compaixão na Terra. A faixa transmite uma mensagem de esperança e unidade.

O jazz é conhecido por sua improvisação, e Isac Project não decepciona nesse aspecto. O álbum “Bass in Worship” é uma demonstração do talento de Isac para a improvisação, sempre mantendo uma lógica harmoniosa e melódica.

Isac acredita que é importante incorporar suas origens em sua música, mesmo que seja em apenas uma ou duas faixas. Mostrar suas raízes africanas é uma maneira de manter sua identidade cultural em seu trabalho. As expectativas para o álbum “Bass in Worship” foram superadas, com muitas pessoas aderindo ao álbum e solicitando sua compra. O sucesso do álbum abre portas para um futuro brilhante para Isac Project.

Além deste álbum, podemos esperar muito mais do Isac Project, incluindo colaborações com grandes artistas nacionais e internacionais. Sua jornada musical está apenas começando, e temos muito mais para esperar.

Em relação à cena musical moçambicana, Isac vê um país rico em diversidade cultural, com uma cena de jazz em crescimento. O artista destaca nomes como Jimmy Dlullu e Hélder Gonzaga como fontes de inspiração e acredita que Moçambique tem todo o potencial para se destacar internacionalmente no cenário do jazz.

A principal mensagem que Isac espera transmitir é que a boa música de qualidade é uma característica marcante da cena musical moçambicana.

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