Paulina Chiziane, primeira escritora moçambicana a publicar um romance no país e detentora dos prémios José Craveirinha (2003) e Camões (2021), deu recentemente uma grande entrevista a Radio e Televisão Portuguesa (RTP) onde fez uma reflexão sobre a África e o mundo no geral.
Chiziane, é reconhecida pelas suas intervenções caracterizadas por resgate de valores culturais, libertação psicológica dos africanos e com maior inclinação às ideias pan-africanas. A sua reflexão foi centralizada em temáticas nomeadamente: literatura, religião e invasões coloniais
Quanto a literatura
A escritora, sustenta que o mundo já reconhece o potencial dos africanos no mundo literário e que o mesmo é fruto de lutas pan-africanas com destaque para as figuras como Martin Luther King e Nelson Mandela. Para os africanos, a literatura é um espaço de negociação da nossa identidade, nosso ser e razão da nossa existência
Destacou também a importância da ʺmilitância culturalʺ pois a cultura e escrita são instrumentos para nova consciência, apesar de maior índice de iletrados, a escritora sublinhou a valorização da oralidade (poema, música), pois atinge todas classes sociais independemente do nível académico.
Quanto as invasões coloniais e religião
Com a invasão europeia em África, os pretos foram derrubados, ridicularizados e diabolizados. A título de exemplo, paulina enquanto criança (6 aos 10 anos), foi ensinada que os anjos eram brancos, com olhos azuis e que o diabo era preto e infelizmente catequisada com uma imagem diabólica do seu povo. E a invasão não foi movida por questões de cristianismo, mas sim por questões de mera necessidade, ou seja, tirar o que eles não têm. E a ideia de paraíso foi uma estratégia para ʺroubarʺ os africanos e o tal inferno que todos nós conhecemos é a escravatura e a colonização.