Cultura
“Somos um país que não lê e não acompanha os artistas” – Jorge de Oliveira
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Jorge de Oliveira, autor da obra “Quando os dias correm mal aos astros”, expressou recentemente sua profunda preocupação com a falta de interesse na literatura moçambicana entre os jovens.
Em uma entrevista recente a Xigubo, o escritor destacou que Moçambique é um país onde a leitura não é valorizada e que a responsabilidade recai sobre o sector da educação para incentivar a leitura entre todas as faixas etárias, incluindo crianças, jovens, adultos e idosos.
O autor acredita que apenas a crítica e a leitura podem promover o desenvolvimento e encorajar as pessoas a desenvolver suas próprias perspectivas do mundo, em vez de apenas reproduzir conceitos pré-estabelecidos.
E enfatiza que a convergência é essencial, mas a divergência é igualmente crucial, pois nos permite refletir sobre o outro.
Estudos de organizações da sociedade civil revelaram que em Moçambique, seis em cada dez crianças com menos de dez anos de idade não sabem ler nem escrever. Além disso, a taxa de analfabetismo entre adultos no país é de 45%, sendo que o número de mulheres analfabetas é particularmente alarmante.
Para Jorge de Oliveira, a educação é fundamental para mudar essa realidade, e é responsabilidade dos sectores editorial e educacional trabalhar juntos para promover a leitura e o desenvolvimento crítico entre os jovens moçambicanos.
“Somente assim será possível transformar a sociedade e alcançar um desenvolvimento sustentável em Moçambique” disse o escritor
Em resposta às preocupações de Jorge de Oliveira, Deusa da África, uma figura literária renomada, argumentou que a responsabilidade pela promoção da literatura moçambicana não é apenas dos sectores citados por Jorge, mas também dos escritores e seus colegas. A poetisa, enfatizou que devem desempenhar um papel ativo na promoção de suas obras e inspirar o amor pela leitura entre os jovens.
Embora ambos os autores tenham opiniões diferentes sobre o assunto, eles concordam que a promoção da literatura moçambicana entre os jovens é crucial para o desenvolvimento sustentável do país. É hora de todos os envolvidos nos setores educacional e editorial trabalharem juntos para incentivar a leitura e o desenvolvimento crítico entre os jovens, garantindo um futuro mais brilhante para Moçambique.
De referir que estes depoimentos foram colhidos durante a sétima edição do Festival Internacional de Poesia, que decorreu em Xai-Xai, organizado pela associação cultural Xitende.
Cultura
Énia Lipanga participa do III congresso de direitos humanos e povos originários em Brasil
Énia Lipanga, poetisa e activista social de Moçambique, viaja mais uma vez para o Brasil como uma das vozes convidadas para o III Congresso de Direitos Humanos e Povos Originários, que acontece em Boa Vista, nos dias 21 e 22 de novembro de 2024.
No evento, Lipanga une sua perspectiva literária à luta pelos direitos humanos e pela valorização das culturas indígenas, participando no painel “Educação de Minorias” com uma palestra sobre “A liberdade feminina em poesias”.
Com profunda sensibilidade, Lipanga olha a poesia como uma poderosa ferramenta de resistência e expressão. “A liberdade é não apenas um direito, mas uma prática cotidiana de resistência e expressão,” afirma.
Para ela, a poesia abre um espaço essencial para “explorar as dores e as alegrias da luta feminina,” permitindo que mulheres de todas as origens reescrevam suas histórias e “rompam silêncios”. Sua palestra é uma reflexão sobre como a literatura pode transformar o entendimento sobre igualdade e autoconhecimento, em um caminho marcado pela resiliência.
A presença de Lipanga no congresso também é uma oportunidade de ampliar o diálogo entre a literatura moçambicana e o movimento pelos direitos das mulheres. Inspirada pelas obras de figuras icônicas de Moçambique, como Lília Momplé e Noémia de Sousa, Lipanga espera levar à audiência brasileira o contexto histórico e cultural da luta por liberdade em seu país.
“Quero resgatar essas vozes para que a audiência compreenda que a busca pela liberdade em Moçambique tem raízes antigas e marcantes,” declarou.
Ainda embalada pela energia de sua recente digressão “Composta de Ti(s)” pelo Brasil, onde ministrou palestras e participou de saraus em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, Lipanga destacou o impacto dessa conexão intercultural. “Foi uma jornada transformadora, cheia de encontros e trocas que refletem a minha própria história.”
Cultura
Embaixador do Turismo em Moçambique visita Bazaruto e diz que é preciso valorizar o que é nosso
No último sábado, 28 de setembro, o músico e produtor DJ Ardiles, embaixador do turismo em Moçambique, visitou o arquipélago de Bazaruto, na província de Inhambane, onde ficou encantado com o potencial turístico desta região e saiu com mais certeza de que é preciso valorizar o que é nosso.
Como embaixador de turismo do país, DJ Ardiles acredita que este paraíso devia ser mais explorado pelos moçambicanos e convida a todos a visitarem, porque é do nosso país e devemos sentir orgulho do mesmo. Por isso, o músico pretende continuar a fazer o seu papel de promover este e outros locais turísticos de modo com que todos tenham acesso à informação, conheçam e possam visitar. Na sua visão, valorizar o que é nosso vai desde consumir produtos locais e divulgá-los até tornarem-se comerciais.
Conhecido pelas suas praias de areia branca, águas cristalinas e uma rica vida marinha, Bazaruto é um destino ideal para mergulho, snorkeling e passeios de barco. Os recifes de corais que cercam as ilhas são lar de uma variedade de espécies marinhas, incluindo peixes coloridos, tartarugas e até golfinhos. Ao visitar este local, DJ Ardiles também reflectiu sobre a importância de se continuar a preservar as diversas espécies marinhas da nossa costa e encorajou o Governo a continuar com o trabalho que tem feito para a conservação das mesmas, assim como o público em geral a fazer a sua parte.
Além das suas belezas naturais, o arquipélago também possui uma rica herança cultural. A interacção com as comunidades locais permite aos visitantes conhecer tradições, a gastronomia e a hospitalidade característica da região.
Segundo DJ Ardiles, o desenvolvimento sustentável do turismo em Bazaruto é crucial para preservar este paraíso, por isso, incentiva também investimentos em infra-estruturas que respeitem o meio ambiente e promovam a conservação dos ecossistemas.
Fast Food
“Não penso na velhice, tenho medo que a velhice pense em mim”- Mia Couto
O escritor moçambicano Mia Couto, famoso por suas obras, frequentemente aborda a temática do tempo em suas entrevistas e livros. Para o escritor, o tempo e as idades devem ser encarados como travessias, uma visão que permeia sua produção literária.
Em um curto vídeo recente, Mia Couto expressa seu desejo de atravessar o tempo de maneira distraída, sem se deixar prender por suas limitações. Essa mesma reflexão está presente no poema “O espelho”, escrito em 2006, no qual o autor discorre sobre a perplexidade diante do envelhecimento e como a luz da idade revela nosso verdadeiro reflexo.
Confira abaixo o poema que explora essa temática:
O espelho
“Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.
Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me, a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.
A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.”
Maputo, 2006