Por: Domingos Mucambe
A música que é alvo dessa singela análise é intitulada “Muravarava”, de João Bata. Uma música da velha escola, ou algo próximo.
Considerando-se a geração de Xidiminguana e Dilon Ndjinji como velha guarda no panorama da música nacional, João Bata, destrate, destacase como um avant-garde do bastião que se vai confiando pelos velha guarda. João Bata, usando das suas músicas profundamente sentimentais, éticas e com louvor à humanidade, levou toda uma sociedade moçambicana, principalmente a da zona sul, ao delírio e êxtase com as suas composições.
Um artista de mão cheia, aliás de boca cheia, ou voz refinada, com grandes letras, como a de “Buzha Ndota”, um clamor pela cólera do país como do mundo; um clamor à jehovaiv ou a uma outra entidade suprema, para curar as doenças que infestam o mundo.
Nas suas próprias palavras, durante uma entrevista no canal televisivo JTV, no programa ‘Minha história’ do dia três de fevereiro, às 15h, disse, “Até os políticos não conseguem resolver os problemas desse país e do mundo, talvez seja necessário a mão de Deus.” Falando, de princípio, do título da música. Muravarava é um jogo típico de Moçambique, na zona sul, principalmente.
Faz-se uma esquadrilha no chão, e dois jogadores (ou mais) enfrentam-se, tendo cada um três dados. Durante a partida de “muravarava” , os dados podem ser nocauteados tanto de frente como de trás por isso é que na mesma letra João Bata diz, “Wabiwa pambheni, Wabiwa Ntsaku.”
Com Murarava, João Bata trata de falar das arrelias da vida. Diz ele, “às vezes, damos 5 passos para frente, mas podemos dar 6 passos para trás”, explicando o “Wabiwa pambheni, Wabiwa Ntsaku”. Muravarava é, indubitavelmente, uma música que reflecte a vida dos moçambicanos na sua época, onde havia mais buracos que alcatrão. As ideias trazidas nessa música por João Bata lembram o estoicismo.
A resiliência estóica, mas já que se está nas terras quentes de África, Moçambique, diz-se Unanga. Ou seja, diz Muravarava que a vida é movimento, não importa se andamos ou nos movimentamos para frente ou para trás, o importante é nos mantermos em movimento. O movimento é vida; segundo o adágio popular, parar é morrer.
Parece ser essa a reflexão do fundo da música de João Bata, fomentar e dar força para resistir às contrariedades que são o sinônimo da vida. O Unanga faz suportar a dor com ânimo, e Muravarava de João Bata também ensina a abraçar todas as contrariedades da vida. Quando se caminha, haverá sempre pedras, buracos, chuvas e outros fenómenos naturais, como não, que irá tornar o Homem mais firme e resiliente.
No fim, esse é o cerne da questão, tanto levando de frente como de trás, aceite as suas próprias dores e, com resiliência, supere-os. Muravarava é um símbolo de João Bata, que, usando dos exemplos dos jogos tradicionais, explica a sua visão sobre as vicissitudes da vida.
É uma música com um significado amplo e profundo, marcada pela visão ou filosofia africana de resiliência, ou seja, ensina a resiliência. Porque a vida tem seus altos e baixos, e, nas próprias palavras de João Bata, “não se podendo ganhar todas”, deve-se saber conviver com as perdas e as desilusões da vida, e, mais do que isso, saber aprender com essas arrelias. Depois de um tombo no chão, não vale desistir porque a vida, como já disse João Bata, é um Muravarava.