A ministra da Educação e Cultura de Moçambique, Samaria Tovele, apelou este domingo, em Maputo, ao regresso ao país dos artefactos e bens culturais que foram retirados durante o período colonial, durante a cerimónia oficial do Dia de África.
Para Tovele, a devolução destes bens representa uma etapa essencial das reparações históricas, que não se esgotam nas questões económicas e políticas, mas incluem também uma dimensão simbólica e cultural.
“Estamos a organizar-nos para discutir como podemos recuperar aquilo que foi roubado ao nosso país e, de forma mais abrangente, ao continente africano”, afirmou a ministra.
Esta posição coloca Moçambique entre os países africanos que têm intensificado as exigências de repatriação de obras de arte, artefactos e objectos de valor cultural que se encontram hoje em museus e instituições europeias.
Até agora, as autoridades portuguesas não se pronunciaram oficialmente sobre a declaração da ministra. Contudo, o seu discurso representa uma mudança significativa no tom do debate político moçambicano, que até aqui evitava abordar o tema de forma tão direta.
Enquanto países como Nigéria, Benim, Senegal e República Democrática do Congo já iniciaram processos formais de devolução junto a antigos colonizadores europeus sobretudo França, Alemanha e Bélgica Portugal mantém uma posição mais discreta e sem sinais claros de avanço.
Fontes do Ministério da Cultura moçambicano, segundo escreveu o Expresso PT revelam que está em curso o levantamento dos bens históricos e culturais dispersos no estrangeiro, preparando terreno para negociações com instituições internacionais e o Estado português sobre possíveis formas de restituição.
A intervenção de Samaria Tovele lança luz sobre um tema delicado, com profundas implicações políticas, históricas e identitárias. Para muitos moçambicanos, recuperar esses bens é mais do que devolver objectos é restaurar memória, identidade e dignidade nacional.